quarta-feira, 19 de outubro de 2011

As várias famílias do século XXI



Quando falamos da família formamos uma imagem imediata de um conjunto de pessoas ligadas por laços de consanguinidade que vivem juntos em regime de coabitação.

O estudo da família consiste na compreensão das variações que este grupo pode assumir, e vem assumindo, na nossa sociedade. Trata-se portanto de identificar os tipos de família que existem.

É comum ouvirmos, principalmente através da mídia, que diversos problemas sociais que existem (drogas, violência na escola, etc.), nascem direta ou indiretamente de uma crise da família.

Esta ideia, a de uma crise da família, se refere, entre outras questões, a uma relativa diminuição do modelo de família dominante, a chamada família nuclear.
No intervalo de três décadas (1970-2000) o modelo de família nuclear, embora ainda corresponda a maioria das famílias brasileiras, vem experimentando uma perda relativa de importância no conjunto das famílias. Uma das configurações que a família vem assumindo corresponde a família monoparental, que, ao contrário da família nuclear, aumentou de forma contundente entre 1970 e 2000.





Nosso estudo sobre as famílias consiste no entendimento dos principais tipos de famílias.

a) A Família Monoparental é aquela formada pelos filhos e apenas um dos genitores, ou seja o pai ou a mãe.
Muitos estudos tem chamado a atenção para a importância destas famílias na reprodução de algumas dificuldades para os indivíduos que participam dela. É que muitas das famílias monoparentais são liderada pelas mulheres e em geral mulheres de classes sociais mais baixas sem acesso aos recursos legais que poderiam obrigar o pai a assumir as responsabilidades na criação dos filhos. Some-se a isto o fato de no Brasil a remuneração do trabalho das mulheres ser menor do que o dos homens.

Tudo isto faz das famílias monoparentais um tipo de família mais presente nos grupos mais pobres .

b) A Família Nuclear é o tipo mais comum de família. É o grupo formado pelo casal e filhos. Conforme o gráfico acima, este tipo apresenta uma tendência a diminuição. Os resultados do censo deste ano, 2010, vai confirmar se esta tendência se mantém, aumenta ou se estabilizou. De qualquer forma este ainda será o principal tipo de família no Brasil.





A sua diminuição exige que nos desdobremos em busca de explicações.

Exatamente aqui é importante a compreensão do conceito de papel social de gênero. Quando olhamos a família nuclear temos apenas o conjunto dos membros. Entretanto, se nos atermos a distribuição dos papéis sociais entre o casal, nós podemos expandir a família nuclear em subtipos.

Quando os papéis sociais de gênero dentro da família, entre o casal, é feito de modo a resultar ao homem a tarefa de provedor da família, principal ou exclusivo, e à mulher as tarefas domésticas não-remuneradas, nós temos um tipo de família nuclear chamada de tradicional.

Na verdade a crise da família nuclear está relacionada com este tipo família, o tradicional. É que nesta família homens e mulheres tem poderes diferentes, gozam e status desiguais. O homem costuma ter todo o poder de decisão sobre a família.

As conquistas das mulheres das últimas décadas estão apoiadas em alguns pilares fundamentais. Um deles é a conquista do trabalho. O fato de as mulheres saírem de casa para trabalhar, e em alguns casos, ser o principal provedor, altera a distribuição de poderes dentro da família. A difusão de anticoncepcionais também faz parte deste processo pois libera o corpo da mulher da maternidade, no sentido de que esta passa a ser uma opção e não necessariamente uma fatalidade. Com os anticoncepcionais as mulheres podem decidir se querem ter filhos, quantos, quando, ou mesmo se preferem se dedicar a formação profissional em vez de ter filhos.

Estas conquistas resultam nas transformações nos papéis de gênero que passam a refletir na família através da divisão das responsabilidades com as tarefas domésticas entre homens e mulheres. Este estado de coisas resulta numa nova modalidade de família nuclear, chamada de de família conjugal, aquela em que os papéis sociais de gênero resultam em igualdade entre o casal quanto as decisões para com a família e nas responsabilidades na criação dos filho e na administração da casa.

c) As mudanças nos papéis sociais de gênero, entretanto, ocorrem mediante muitos conflitos, às vezes até sob a forma de violência doméstica. Muitos casais não suportam as divergências e se desfazem. Deste modo muitas pessoas que já possuem filhos passam a estar “disponíveis” para novas relações. Quando se formam novos casais que reúnem pessoas que já tem filhos e todos coabitam, o casal e os filhos de casamentos anteriores, nasce aquilo que é chamado de família recomposta.

d) Outro tipo de família é a chamada família extensa. Esta corresponde ao “esticamento” da família em direção gerações anteriores ou posteriores à família nuclear. Por exemplo, quando os pais de um parceiro do casal passa a coabitar com a família nuclear ou quando um dos filhos forma sua família e coabita na casa de sua família nuclear original

PESQUISA COM TRANSEXUAIS MOSTRA PRECONCEITO



As mulheres transexuais freqüentemente não aguentam o preconceito e as agressões que sofrem durante o processo de transição de sexo. É o caso da militante transexual Carla Machado. Formada pela USP e com MBA em marketing, Carla largou o emprego de nove anos em uma multinacional por não agüentar a hostilidade no trabalho. Ela conta que, desde criança, sentia-se uma mulher e só se deu conta de que era um menino ao chegar à puberdade. Daí viveu um período que chamou de fase andrógina. Ela se vestia com roupas neutras e escondia a identidade feminina para conseguir terminar a faculdade e encontrar um emprego. Aos poucos, foi sentindo a necessidade de se libertar e começou a tomar hormônios. As mudanças, porém, não passaram despercebidas na empresa.

“Primeiro deixaram de me chamar para as reuniões semanais com a diretoria. Depois algumas colegas para quem eu contei minha situação espalharam a notícia. Eu sabia que o diretor de recursos humanos não queria que eu permanecesse na empresa. Fiz um acordo que me deu vantagens e fui embora. Eu não podia ficar lá”, afirma.

 A hora de mudar de sexo
Um outro ponto detectado pelo estudo de Kristen Schilt foi que os homens transexuais fazem a transição de gênero em média 10 anos antes de as mulheres transexuais. As meninas geralmente vislumbram os privilégios de pertencer ao sexo masculino e mudam a aparência física ainda no final da adolescência ou durante a faixa dos vinte anos. Já os homens receiam perder o emprego, a independência financeira ou até mesmo magoar a família se assumirem sua identidade feminina. Muitos, por imposição da sociedade, chegam a se casar e ter filhos.

Helena, uma transexual que não prefere não revelar sua identidade, relatou que a decisão de assumir a transexualidade só veio aos 43 anos. Ela teve uma breve carreira militar, era casada e tem uma filha. A auto-repressão quase a enlouqueceu. Helena tinha medo de perder o emprego de artista plástica em uma grande produtora cultural. “Mas chegou um momento em que eu não pude mais agüentar. Ao mesmo tempo que ainda tenho um pouco de dificuldade em me aceitar, era uma violência comigo mesma negar que eu era uma mulher. As pessoas tomam um choque, mas tive a felicidade de minha família entender e de os colegas de trabalho aceitar”.

O desfecho de aceitação da história de Helena, no entanto, não reflete a maioria dos casos, apesar de não ser possível determinar o que é maioria, já que não há estatísticas sobre a população transexual. Nem estimativas. De acordo com a professora Berenice Bento, não há políticas públicas de proteção e inserção dos transexuais na sociedade. No site do Ministério do Trabalho há um programa chamado Brasil Raça e Gênero que afirma, em termos vagos, possuir ações para a inclusão dos transexuais no mercado de trabalho. Ao ser solicitada, a assessoria do Ministério informou que, apesar de tais medidas constarem no programa, nenhuma ação ou política foi estabelecida. A Secretaria Especial de Direitos Humanos também não tem programas específicos para transexuais. O Ministério Público do Trabalho não tem números sobre os processos por preconceitos contra transexuais no mercado de trabalho.

 O preconceito contra transexuais
A escassez de dados ajuda a deixar ainda mais distante das vistas da sociedade a situação dos transexuais, que, segundo Berenice, é “absolutamente trágica”. A inserção no mercado formal é baixíssima. Em sua tese de doutorado, a professora analisou um grupo de 20 transexuais de diferentes classes sociais escolhidas aleatoriamente. Das 20, apenas uma havia entrado na faculdade e, mesmo assim, não tinha conseguido concluir os estudos por conta do preconceito.

O cenário para as transexuais, no entanto, é de ligeira melhora, afirma a militante Carla. A principal razão é a recente decisão do Ministério da Saúde de incluir a cirurgia de mudança de sexo na lista de procedimentos pagos pelo SUS. A transferência das ações do Ministério para a área da saúde da mulher agradou as transexuais, que querem ter o reconhecimento de que não são homens que se vestem de mulher, mas mulheres de fato. Mas a evolução ainda é insuficiente na opinião da socióloga Berenice Bento, que vê no Estado o principal agressor das transexuais por causa da ausência de políticas públicas e da ação violenta da polícia. “Se faltam diretrizes básicas para a proteção física das transexuais, pensar em inserção no mercado de trabalho é algo muito distante”, diz.