domingo, 15 de novembro de 2009

O que significava viver sob uma ditadura militar?

O que significa viver sob uma ditadura militar? É exagerado achar que a toda hora tem tanque na rua, soldados desfilando dentro das faculdades. Aparentemente não muda muita coisa, porque você vai às compras, ao dentista, à praia e ao cinema, namora e casa, vê televisão. A não ser o fato de que seu vizinho é oficial do Exército e você sabe que por isso ele manda aqui no prédio (e isso pode ser até bom para a vizinhança), o resto parece bem normal. Mas, se você tiver um pingo de consciência, desconfia que as coisas não vão bem. Existe um cheirinho de esquisitice: as pessoas falam baixo, há uma nuvem de mistério cobrindo o país, o estômago fica pesado demais.

Depois de 1964 ainda dava para fazer umas passeatazinhas e desafiar o regime. Depois do AI-5 (dezembro de 1968) o regime tinha fechado de vez. Passeata era dissolvida a tiros de fuzil. Em cada redação de jornal havia um imbecil da polícia federal para fazer a censura, Não poderia sair nenhuma notícia que desagradasse ao governo. Uma simples reportagem esportiva sobre o time do Internacional de Porto Alegre, com sua camisa vermelha, poderia ser encarada como “propaganda da Internacional Comunista”. Além da censura, o jornal não podia dizer que tinha sofrido a censura (isso, claro, também era censurado). O jeito foi botar receitas de bolo nos vazios deixados pelas partes retiradas pela polícia. As pessoas estavam lendo uma página sobre política nacional e, de repente, vinha aquela absurda receita para fazer uma torta de abacaxi. Os espertos sacavam logo que era um protesto. Os mais ingênuos (por conivência ou conveniência, chegavam a mandar cartas para as redações dos jornais, pois as receitas, por vezes, eram irracionais: “cinco quilos de açúcar, 100 g de farinha de trigo, dois quilos de sal, vinte tabletes de fermento, uma colher de chá de suco de laranja...” Não há receita que dê certo assim, hehehe. Claro que existem ainda hoje ingênuos ainda mais imbecis, que declaram coisas como: “naquele tempo o governo era muito melhor do que hoje. Bastava abrir os jornais, eles só tinham elogios para o governo. Aliás, também tinham receitas de bolo muito boas.”

Ninguém podia falar mal do governo. Reclamação na fila do ônibus era uma linha até à cadeia. Estudantes e professores que conversassem sobre política poderiam ser expulsos da escola ou da faculdade, devido ao decreto-lei nº 477 (1969), Imagine o clima dentro da sala de aula. Se o professor contasse aos alunos o que você está lendo neste livro, corria o sério risco de não poder voltar mais à sala de aula. Ou mesmo para a sua própria casa...



_ O que você acha da situação atual?

_ Eu não acho nada! Tinha um amigo que achava muito e hoje ninguém acha ele! To fora!



Qualquer aluno novo que tentasse se enturmar era logo suspeito de pertencer ao SNI. Veja que coisa, a ditadura tolheu até as novas amizades!

O político que fizesse oposição aguda seria logo cassado pelo AI-5. Foi o caso, por exemplo, do deputado federal Francisco Pinto (MDB), punido em 1974 porque fez no Congresso um discurso chamando de “ditador” o ditador chileno Pinochet em visita ao Brasil, o deputado Lysâneas Maciel (MDB) solicitou a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar denúncias de corrupção no regime. Não teve CPI nenhuma e ele ainda foi cassado. É isso aí: numa ditadura, a sociedade não pode fiscalizar o governo. Os cidadãos estão enjaulados, mas a corrupção está livre.

Com tantas dificuldades, como continuar fazendo oposição ao regime? Para muitos jovens, só havia um caminho a seguir: a luta armada.

Falar em guerrilha nos anos 60 arrepiava muita gente. Ela parecia ser a grande arma de libertação dos povos do Terceiro Mundo. Exemplos não faltavam. Em Cuba, Fidel Castro e Che Guevara abriram o caminho: No Vietnã, os guerrilheiros de Ho Chi (Minh derrotavam a maior máquina de guerra do planeta, a do imperialismo norte-americano. Na Argélia, os guerrilheiros dobraram as tropas francesas e conquistaram a independência do país. Na própria China, a revolução socialista foi vitoriosa depois de anos de guerrilha camponesa comandada por Mao Tsetung. No Brasil não poderia ser diferente: muitos estudantes, velhos militantes da esquerda e intelectuais começaram a organizar grupos guerrilheiros. Para eles, depois do AI-5 não havia mais espaço para a legalidade. Só a luta armada libertaria o Brasil.

Ao contrário do que você possa pensar, o PCB foi contra a luta armada. Os comunistas acreditavam que a luta no momento não era nem socialismo nem reformas básicas, mas pelo fim do regime autoritário. Sua estratégia era a de se unir a todos os grupos democráticos contra o regime. Atuaria, clandestino, no MDB.

Muita gente da esquerda considerou esse programa covarde, reformista (um xingamento horroroso, pois isso equivaleria a não ser um revolucionário. Mas naquele momento os comunistas eram qualquer coisa, menos revolucionários...). A juventude queria a mudança logo, a todo preço. E foram esses jovens, garotões e meninas, adolescentes ainda, estudantes e sonhadoras, que embarcaram na aventura da luta armada.

Um dos grandes gurus era o francês Regis Debray, que tinha sido companheiro de guerrilha de Che Guevara. Foi ele que lançou a teoria foquista: meia dúzia de combatentes criariam um foco guerrilheiro numa área rural. Primeira etapa, o treinamento militar. Depois, contato com a população. Ganham a confiança através do trabalho, da honestidade, de solidariedade. Imagine o efeito disso: o camponês jamais viu um médico e, de repente, aquelas pessoas o tratam com cuidado, curam seus filhos. Nesse processo, os guerrilheiros vão transmitindo suas idéias, mostrando que o latifúndio deveria ser confiscado, que os camponeses precisam se unir e se armar. E quando chegam os jagunços do fazendeiro, os guerrilheiros estão prontos para responder com fogo de armas de guerra, Pronto, está deflagrada a luta. Agora, junto com os camponeses que aderem ao movimento, eles se lançam para o mato. O Exército chega logo depois, quase sempre truculento: tortura moradores, incendeia barracos, molesta as meninas. O povo vê com clareza quem está do lado dele. Os guerrilheiros, por sua vez, nunca enfrentam o Exército de frente. As táticas incluem emboscadas, ações rápidas e fulminantes. Depois, a fuga veloz: sua mobilidade e ataques de surpresa são armas letais. Conhecem a região, contam com o apoio logístico dos moradores. Quase invencíveis. Mas este é um foco. A teoria foquista imaginava que surgiria outro foco ali, e mais outro adiante, e outro, e outro. Até que um dia esses focos começariam a se unir para compor um grande exército popular. Tal como ensinou Mao Tsetung, o campo cercaria a cidade. E a revolução seria vitoriosa.

Simples, não? É, simples demais para dar certo: havia muitos sonhos e pouco pé no chão. Como fazer guerrilha camponesa num país em que a maioria já vivia na cidade? Bem que o sinal de alerta já havia sido dado: em 8 de outubro de 1967, Che Guevara foi assassinado pela CIA, quando organizava um foco guerrilheiro na Bolívia. Não era um aviso de mau agouro?

Desde 1968 já existiam ações guerrilheiras. Mas o grosso mesmo foi entre 1969 e 1973. Havia um cacho de grupos de luta armada, diferentes nos objetivos e nas estratégias, embora no final todos visassem ao socialismo (já se disse que as esquerdas só se encontram na cadeia...). Uns achavam que primeiro era preciso derrotar a ditadura, outros achavam que já era possível lutar imediatamente pelo socialismo; uns achavam que primeiro era preciso organizar os trabalhadores e depois se lançar na guerrilha, outros achavam que através da luta guerrilheira os trabalhadores iriam se organizando; uns achavam que a guerrilha urbana era a mais importante, outros, que era a rural.

Não vamos estudar as minúcias das organizações. Basta dar uma idéia geral de como funcionavam as mais importantes: VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), o MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro), a ALN (Ação Libertadora Nacional), o PCBR (PCB Revolucionário), o PC do B, a VAR-Palmares.

Quem eram esses guerrilheiros? Não eram muitos, apenas algumas centenas. Os simpatizantes, que eventualmente podiam esconder alguém em casa ou contribuir com dinheiro, não iam além de uns mil e poucos. Apesar de sonharem com a revolução proletária, havia poucos operários ou camponeses. Os líderes geralmente eram antigos comunistas, rompidos com o Partidão porque o PCB estava contra a luta armada. Ainda tinha um grupo importante de militares desertores do Exército. Muitos guerrilheiros eram como talvez você seja, amigo leitor, com 17 ou 18 anos de idade, estudantes secundaristas ou acabando de entrar na faculdade.

A maioria dos guerrilheiros foi presa antes de começar a luta armada no campo. Na verdade, a guerrilha ficou sendo urbana mesmo, sem repercussão maior. Houve algumas tentativas de panfletar na porta de fábricas, e um grupo chegou a levar um caminhão cheio de comida para distribuir na favela, anunciando aquela como “a primeira das muitas expropriações revolucionárias que o povo fará daqui em diante”. Pura ilusão. A repressão do governo agia com muita eficácia e rapidamente os grupos foram desmantelados. No final, tinham de assaltar bancos para levantar fundos para a luta e seqüestrar embaixadores em troca da libertação de presos políticos.

Desde o início a guerrilha já tinha muitos erros. Para começar, os guerrilheiros consideravam-se marxistas, mas quase nada tinham lido a respeito. Ninguém tinha feito uma análise profunda da sociedade brasileira para ter certeza de que aquela era a melhor estratégia a ser seguida. Por exemplo, sonhavam com uma guerrilha camponesa num país enorme que já era urbano e industrial. Queriam buscar seus próprios caminhos políticos, mas no fundo imitavam modelos de outros países, como Cuba e China. Falavam em nome dos trabalhadores, mas jamais tiveram um contato maior com a população. O povo, dominado pela propaganda oficial e pela imprensa censurada, os ignorava ou os tratava como bandidos, seqüestradores, assaltantes de banco, “terroristas”. Viviam tão fora da realidade, que só faltaram dizer que as vitórias do governo, pulverizando a guerrilha, eram “a mostra do desespero da burguesia em sua crise final”. Coitados, eram rapazes e moças que nunca tinham visto um revólver na vida enfrentando um Exército profissional bem equipado e com assessoria dos EUA. Nem dava para começar.

A única tentativa que teve alguma consistência foi a Guerrilha do Araguaia. Ela se desenvolveu mais ou menos entre 1972 e 1974, organizada pelo PC do B. Lembremos que, na época, ao contrário do PCB (que era de linha soviética e contra a luta armada) o PC do B seguia o socialismo chinês (o maoísmo) e apoiava a guerrilha. Pois bem, no começo dos anos 70, grandes empresas do Sudeste e multinacionais investiram em pecuária extensiva na região do Tocantins-Araguaia. Quando chegaram lá, já havia pequenas roças na mão de camponeses posseiros (não tinham documentos legais da propriedade da terra, apesar de trabalharem nelas havia muitos anos). Nem quiseram saber, passaram a fazer grilagem das terras (tomar ilegalmente). Quando o camponês não queria abandonar a terra, os capangas da empresa iam lá, ateavam fogo no barraco, destruíam a plantação, espancavam os moradores. Como você pode perceber, as lutas de classes entre os grileiros e os posseiros eram muito fortes. O PC do B quis aproveitar esse potencial de revolta e chegou na região para montar uma base de treinamento. Foram descobertos pelo Exército, que deslocou para região milhares de soldados. Contra uns 60 guerrilheiros. Numa região isolada do país, imprensa censurada, as pessoas só sabiam alguma coisa através de boatos. Mas na região do Araguaia até hoje as pessoas humildes se recordam do que aconteceu. Muitos militares abusaram do poder e espancaram brutalmente a população para que revelasse os esconderijos dos guerrilheiros. Os prisioneiros eram torturados de forma bárbara e muitos encontraram a morte depois que o corpo virou uma massa de pedaços de carne e sangue. Os guerrilheiros mortos foram enterrados em cemitérios clandestinos e até hoje as famílias procuram seus corpos. Em 1974, a guerrilha do Araguaia estava destruída.



O que dizer sobre essa loucura toda? Foram rapazes e moças, muitos ainda adolescentes, que tiveram a coragem de abandonar o conforto do lar, a segurança de uma vida encaminhada, a tranqüilidade da vida de jovem de classe média, para combater um regime opressor com armas na mão. Pessoas que dão a vida pelo ideal de libertação de seu povo não podem ser consideradas criminosas. Mesmo que a gente não concorde com os caminhos trilhados. Eles mataram? Certamente. Mas nunca torturaram. Nem enterraram suas vítimas em cemitérios clandestinos. E se o tivessem feito, nada disso justificaria a tortura e o assassinato executados pelo governo. Além disso, seria mesmo inadmissível pegar em armas contra um regime antidemocrático que esmagava o povo brasileiro? Que moral uma ditadura tem para definir como deve ser combatida?


fonte: www.culturabrasil.com

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mais uma censurada...

Breve histórico da censura musical durante a Ditadura Militar

A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR

Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerda dentro das forças armadas, todos estavam engajados e articulados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes), o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o PUA (Pacto da Unidade e Ação), etc, que tinham grande representatividade diante dos destinos políticos da nação. Com a implantação da ditadura, todas essas entidades foram asfixiadas, sendo extintas ou a cair na clandestinidade. Em 1968, os estudantes continuavam a ser os maiores inimigos do regime militar. Reprimidos em suas entidades, passaram a ter voz através da música. A Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas, ousando a falar o que não era permitido à nação. Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado, passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma da ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime. Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo. A censura além de cerceadora, era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira.

Os Perseguidos do Pré-AI-5

Antes mesmo de deflagrado o AI-5, alguns representantes incipientes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Taiguara e Geraldo Vandré.
A intervenção de Caetano Veloso era mais no sentido da contracultura do que contra o regime militar. Os tropicalistas estavam mais próximos dos acontecimentos do Maio de 1968 em Paris, do que das doutrinas de esquerda que vigoravam na época, como o marxismo-leninismo soviético e o maoísmo chinês. Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam. Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968). Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
Ainda do repertório do álbum mítico “Tropicália ou Panis et Circenses” , a música “Geléia Geral” (Gilberto Gil – Torquato Neto), sofreu o veto da censura por ser considerada de conteúdo política contestatória, além de segundo os censores, fazer um retrato equivocado da situação pela qual passava o país.
Ao retornar do exílio, Caetano Veloso e Gilberto Gil sofreram com a perseguição da ditadura e da censura. Em 1973, Caetano Veloso teve a sua canção “Deus e o Diabo”, vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Diante do veto, a gravadora solicitou recurso, foi sugerido pelo censor que o autor substituísse a palavra “bofes”. Mas um segundo censor menciona os versos “o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou” e “Cidade Maravilhosa/ Dos bofes do meu Brasil”, como ofensivos às tradições religiosas. Em 1975, o álbum “Jóia” trazia na sua capa Caetano Veloso, sua então mulher Dedé e o filho Moreno, completamente nus, com o desenho de algumas pombas a cobrir-lhe a genitália. Censurada, o álbum foi relançado com uma nova capa, onde restaram apenas as pombas.
Geraldo Vandré tornou-se o inimigo número um do regime militar. A sua canção “Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”, que ficou com o polêmico segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino contra a ditadura militar, cantado por toda a juventude engajada do Brasil de 1968. Esta canção, afirmam alguns analistas de história, foi uma das responsáveis pela promulgação do AI-5. Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a cantora Simone a cantou em um show, no Canecão. Perseguido pelo regime, Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva carreira emprestada ao combate à ditadura.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura. Deparou-se com a atenção da censura em 1971, que esteve atenta às canções do álbum “Carne e Osso”. Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época. Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum "Let the Children Hear the Music", em inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o disco finalmente liberado.

Chico Buarque, o Alvo Predileto da Censura Militar

Tendo silenciado e asfixiado Geraldo Vandré, os militares elegeram o seu novo inimigo do regime: Chico Buarque de Hollanda. No período que durou a censura e o regime militar, Chico Buarque foi o compositor e cantor mais censurado. A sua obra sofreu respingos da censura em todas as vertentes, tanto nas canções de protesto, quanto nas que feriam os costumes morais da época.
Os problemas de Chico Buarque com a censura começaram junto com a sua carreira. Em 1966, a música “Tamandaré”, incluída no repertório do show “Meu Refrão”, com Odete Lara e MPB-4, é proibida após seis meses em cartaz, por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da marinha. Era o começo de um longo namoro entre a censura e a obra de Chico Buarque.
Exilado na Itália, de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreria com a perseguição da censura após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, o compositor enviou a música “Apesar de Você” para a aprovação da censura, tendo a certeza que a música seria vetada. Inesperadamente a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente em compacto, tornando-se um sucesso instantâneo. Já se tinha vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal comentou que a música referia-se ao presidente Médici. Revelado o ardil, o exército brasileiro invadiu a fábrica da Philips, apreendendo todos os discos, destruindo-os. Na confusão, esqueceram de destruir a matriz.
Em 1973 Chico Buarque sofreria todas as censuras possíveis. A peça “Calabar, ou o Elogio à Traição”, escrita em parceria com Ruy Guerra, foi vetada pela censura. As conseqüências da proibição viriam no seu álbum, “Calabar”, também daquele ano. A capa do disco trazia a palavra “Calabar” pichada num muro. Os censores concluíram que aquela palavra pichada tinha um significado subversivo, o que resultou na proibição da capa. A resposta de Chico Buarque foi lançar o álbum com uma capa totalmente branca e sem título. O disco trazia o registro das canções da peça vetada, por isto teve várias músicas (todas elas em parceria com Ruy Guerra) que amargaram nas malhas da censura. “Vence na Vida Quem Diz Sim” teve a letra totalmente censurada, sendo gravada no disco uma versão instrumental; “Ana de Amsterdam” teve vários trechos censurados. “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, que fazia parte deste disco, alcançaria grande sucesso quando gravada por Ney Matogrosso, em 1978, quando foi escolhida como tema de abertura da novela da tevê Globo “Pecado Rasgado”, na versão original da música o verso "Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor", foi substituído por "Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor". “Fado Tropical” teve proibido parte de um texto declamado por Ruy Guerra, além da frase “além da sífilis, é claro”, herança portuguesa, segundo a personagem Mathias, no sangue brasileiro. “Bárbara”, um dueto entre as personagens Ana de Amsterdam e Bárbara, teve cortada a palavra “duas”, por sugerir um relacionamento homossexual entre elas. Tanto “Ana de Amsterdam” quanto “Bárbara”, já tinham sofrido os mesmos cortes no álbum “Caetano e Chico Juntos Ao Vivo”, ali substituídos por palmas. Ainda no registro do encontro de Chico Buarque e Caetano Veloso, além da censura às duas canções citadas, “Partido Alto” (Chico Buarque), interpretada por Caetano Veloso, sofreu alterações na letra, sendo substituídas as palavras “brasileiro” por “batuqueiro” e “pouca titica” por “pobre coisica”.
Diante de tantas mutilações da censura, o álbum “Calabar”, com capa branca, de Chico Buarque, foi um fracasso de vendas. Após o fracasso comercial , a Philips decidiu recolher o disco com capa branca, relançando-o semanas depois, com uma nova capa, trazendo apenas com uma fotografia do artista, de perfil, com o título “Chico Canta”.
Naquele ano de 1973, a música “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), foi proibida de ser gravada e cantada. Gilberto Gil desafiou a censura e cantou a música em um show para os estudantes, na Politécnica, em homenagem ao estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), morto pela ditadura. Ainda naquele ano, no evento “Phono 73”, festival promovido pela Polygram, Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram os microfones desligados quando iriam cantar “Cálice”, por decisão da própria produção do show, que não quis criar problemas com a ditadura.
Em 1974 a censura não dá tréguas ao artista. Impedido de gravar a si mesmo, Chico Buarque lança um disco, Sinal Fechado (1974), com composições de outros autores. Diante de tantas canções vetadas, a sofrer uma perseguição acirrada, Chico Buarque cria os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. É sob o heterônimo do Julinho da Adelaide que a censura deixa passar canções de críticas inteligentes à ditadura, lidas nas entrelinhas: “Jorge Maravilha”, que trazia o verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta”, que era lida como uma referência ao então presidente Geisel, cuja filha Amália Lucy, teria dito em entrevista, que admirava as canções do Chico Buarque. “Acorda Amor”, outra canção liberada do Julinho da Adelaide, era uma referência clara aos órgãos da repressão, que vinham buscar cidadãos suspeitos de subversivos em suas casas, levando-os em uma viatura, desaparecendo com eles. Diante da polícia repressiva, ele chamava pelo ladrão. “Milagre Brasileiro” também levou a assinatura de Julinho da Adelaide.
Outro clássico da MPB que sofreu uma censura moralista foi “Atrás da Porta” (Chico Buarque – Francis Hime), o verso original “E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pêlos”, seria substituído por “E me agarrei nos teus cabelos, no teu peito”, a censura achava a palavra “pêlos” de caráter indecente.
Outra canção vetada de Chico Buarque foi “Tanto Mar”, uma homenagem do artista à Revolução dos Cravos em Portugal. Por ter sido uma revolução considerada socialista, a canção foi proibida. Seria gravada no álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” (1975), numa versão instrumental. Mais tarde, em 1978, seria liberada com uma outra letra. Curiosamente, a versão original, sem cortes e cantada de “Tanto Mar”, consta no mesmo álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” lançado em Portugal.
Quando o AI-5 foi extinto, em 1978, Chico Buarque vingou-se dos anos de censura, gravou “Cálice”, regravou “Apesar de Você”, além de criar músicas provocantes, que afrontavam à moral da época, como "Folhetim", que descrevia uma prostituta, ou “Geni e o Zepelim” e “Não Sonho Mais”, temas de dois travestis, Genivaldo da peça “A Ópera do Malandro” e Eloína, do filme “A República dos Assassinos”, respectivamente.

1973, o Ano Negro da Censura às Músicas da MPB

Chico Buarque não teria sido o único cantor da MPB a sofrer mutilações na sua obra naquele opressivo ano de 1973. O endurecimento deve-se à volta das manifestações estudantis, nos últimos anos bruscamente combalidas, resultado das perseguições aos líderes do movimento, que estavam em sua maioria presos, exilados ou desaparecidos. Outro disco mutilado pela censura naquele ano foi “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, lançado em LP e compacto simples. Do álbum seriam vetadas as canções: “Hoje é Dia d’El Rey” (Márcio Borges – Milton Nascimento), “Os Escravos de Jó” (Milton Nascimento – Fernando Brant) e “Cadê” (Milton Nascimento – Ruy Guerra). Uma das faixas proibidas teria a participação de Dorival Caymmi, com a sua exclusão, não aconteceu esta participação. “Diálogo Entre Pai e Filho” teve uma única frase que não foi proibida: “Meu filho”. Diante da censura, Milton Nascimento gravou apenas as melodias das canções vetadas.
Foi no tumultuado ano de 1973, que a banda Secos & Molhados explodiu, conquistando o país inteiro. O público dos Secos & Molhados, devido à proposta inovadora e ao seu carisma, era composto por todas as idades, inclusive por crianças e por adolescentes. Os três integrantes da banda eram Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo, que se apresentavam com os rostos pintados. Ney Matogrosso além de trazer a cara pintada, tinha uma voz de timbre totalmente diferente da de um homem cantor, um aspecto andrógeno e apresentava-se entre plumas, sem camisa. Os pêlos do peito do cantor e os seus frenéticos rebolados, incomodaram à censura, à moral e aos seus bons costumes vigentes, que proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto, sendo permitido apenas aparecer o rosto em close. Assim apareceriam os Secos & Molhados em um clipe do recém estreado “Fantástico”, programa da Rede Globo.
Além da capa de “Calabar”, também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do disco “Índia”, por trazer um close frontal da cantora vestida de uma tanga minúscula, e na contra-capa fotografias da mesma de seios nus, vestida de índia. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul. Do mesmo álbum, a música “Presente Cotidiano”, de Luiz Melodia, foi proibida de tocar em rádios e locais públicos. Em 1984, já no fim da ditadura, pós Diretas Já, Gal Costa teria outra canção proibida pela censura de ser tocada em público: “Vaca Profana” (Caetano Veloso), do álbum “Profana”.
Ainda naquele tenso 1973, uma reportagem da revista Veja, dava conhecimento de que o álbum de Gonzaguinha, “Luiz Gonzaga JR.” (1973), era resultado do corte feito pela censura de 15 músicas.
Ainda em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela censura. Luiz Melodia, além de ter “Presente Cotidiano” proibida de ser executada nas rádios, teve várias palavras excluídas ou alteradas das canções do seu disco de estréia, e várias músicas vetadas na íntegra.

Linguagem Poética e Coloquial Sofrem Censuras

Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”. O que se concluía era que, os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um autor vulgar do Brasil da época.
Outro exemplo eloqüente da ignorância e do despreparo dos censores, foi com o compositor e cantor Adoniran Barbosa. Conhecido como o mais paulistano dos compositores, Adoniran Barbosa usava em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos. Não querendo problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinqüenta. Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas. Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos “O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Móis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”, o censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim: “Ficamos com um baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”. Na letra da música “Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), a censora faz um círculo nas palavras “tauba”, “revorve” e “artormove”, concluindo que a “falta de gosto impede a liberação da letra”. Para que pudessem ser aprovadas, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro”, teriam que virar “Samba do Ernesto” e "Tiro ao Alvo”. Tiveram o mesmo destino “Já Fui uma Brasa” (Adoniran Barbosa – Marcos César), "Eu também um dia fui uma brasa. E acendi muita lenha no fogão" e “O Casamento do Moacir” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), "A turma da favela convidaram-nos para irmos assistir o casamento da Gabriela com o Moacir". “O Casamento do Moacir” foi considerada de "péssimo gosto" pela censora Eugênia Costa Rodrigues. Diante da censura, Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
Outro poeta que teve problemas com a censura foi Vinícius de Moraes. Sua música “Paiol de Pólvora” (Vinícius de Moraes – Toquinho), feita para a trilha sonora de “O Bem-Amado”, foi proibida de ser o tema de abertura da novela, em 1973, por causa do verso “estamos sentados em um paiol de pólvora”, sendo substituída na abertura pela música “O Bem Amado” (Vinícius de Moraes – Toquinho), interpretada pelo coral da Orquestra Som Livre. Também a belíssima canção “Valsa do Bordel” (Vinícius de Moraes – Toquinho), sobre a vida de uma velha prostituta, esteve proibida por dez anos. Vinícius cantava esta música em shows, ironicamente chamando-a de “A Valsa da Pura”, por causa da censura.
Paulinho da Viola, em 1971, teve no seu álbum “Paulinho da Viola”, duas canções proibidas: “Chico Brito” (Wilson Batista – Afonso Teixeira), música composta em 1949, e “Um Barato, Meu Sapato” (Paulinho da Viola – Milton Nascimento), ambas vetadas sob a alegação de que evidenciavam o clima marginal do samba.

Outros Tantos Vetos

Vale registrar, ainda, que em 1972, Jards Macalé teria que reescrever sete vezes a letra de “Revendo Amigos” (Jards Macalé – Waly Sailormoon), do álbum “Movimento dos Barcos”.
Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, filho de Jacob do Bandolim, em 1970, teve a sua música “Acorda, Alice”, proibida pela censura da ditadura militar por causa do verso “Acorda, Alice/ Que o país das maravilhas acabou”. Esta canção seria gravada por Waleska já na época da abertura política.
Rita Lee teve as músicas “Moleque Sacana” (Rita Lee e Mu) e “Gente Fina” (Rita Lee) censuradas, a primeira por causa da palavra sacana, considerada obscena, a segunda porque poderia ferir os bons costumes da época.
Carlos Lyra sentiu o gosto da censura com a sua música “Herói do Medo”, proibida por causa dos versos "odeio a mãe por ter parido" e "o passatempo estéril dos covardes". Carlos Lyra não alterou o conteúdo da letra, preferiu sair do país.
Belchior, que durante muito tempo foi considerado autor marginal, teve a música “Os Doze Pares de França” (Belchior – Toquinho) censurada, porque para os censores, os autores vangloriavam a França, fazendo dele um país melhor para se viver do que o Brasil. Também a canção “Pequeno Mapa do Tempo” (Belchior), de 1977, uma crítica implícita ao regime, por causa dos versos "eu tenho medo e medo está por fora" e "eu tenho medo em que chegue a hora, em que eu precise entrar no avião", uma alusão ao exílio, os censores concluíram que a música trazia mensagem de protesto político.
Ao contrário do que se pensa, o cantor e compositor Luiz Ayrão foi um dos artistas brasileiros que mais contestou a ditadura militar. A sua música “Quem Eu Devo é Que Deve Morrer”, tem como tema uma dívida pessoal que só será paga se Deus quiser. Também a dívida externa brasileira encontrava-se nessas condições. Luiz Ayrão faz um samba provocativo. Diante da afirmação do verso “quem eu devo é que deve morrer", a canção é vetada, sendo a proibição justificada pela censura porque a letra era um incentivo ao homicídio, com uma mensagem de caráter negativo.
Sueli Costa deu a canção “Cordilheira” (Sueli Costa – Paulo César Pinheiro) para Erasmo Carlos gravar. Feito o registro, a canção jamais saiu, sendo proibida. Os autores chegaram a ir a Brasília em busca de uma explicação para o veto. Encontram o silêncio dos censores, sem nenhuma justificativa. Mas os versos falavam por si: “Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas”. “Cordilheira” é uma das mais belas canções de teor contestatório já feita no Brasil. Quando liberada, seria gravada por Simone, em 1979, no álbum “Pedaços”. O registro de Erasmo Carlos só saiu em uma caixa de cds comemorativos à carreira do cantor. Outra canção censurada de Sueli Costa foi “Altos e Baixos” (Sueli Costa – Aldir Blanc), que cantava de forma densa uma cena de agressão entre um casal, que trazia um casamento desgastado. A música falava de uísque, Dietil, Diempax, e foi justamente por ter citado o nome do ansiolítico Diempax, que a canção foi censurada. Elis Regina conseguiria a liberação da música, gravando-a no seu álbum “Essa Mulher” (1979).

O Brega ou Popularesco, Nada Escapa à Censura

Como já se pôde observar , a censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral. Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega” ou “pimba”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época. Em 1975, já Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção "é um veículo de integração da nacionalidade". Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.
Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José), teve só pelo seu título, o veto da censura. Revelar a intimidade de um casal naqueles preconceituosos anos setenta era inconcebível para a censura militar. Outra música de Odair José vetada pela censura foi “A Primeira Noite”, considerada inconveniente para ser consumida pelo público jovem e adolescente da época. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
Dentro da corrente popularesca, a censura não poupou nem mesmo a dupla Dom e Ravel, que em 1970, tornara-se a menina dos olhos da repressão, com uma música que exaltava a nação, tornando-se o hino da ditadura: “Eu Te Amo, Meu Brasil”. O motivo que levou o regime a interrogar Dom e Ravel, foi quando eles apresentaram, em 1972, a canção “A Árvore”, os censores desconfiaram do trecho “venha, vamos penetrar”. Além de imaginar que o tema que falava de árvores, seria supostamente sobre a canabilis (planta da maconha). A música foi proibida, apesar de ter uma gravação da banda Os Incríveis, nunca foi lançada. A esta altura, a incoerência da censura já dava passagem para uma certa esquizofrenia social e política, sem ideologia ou razão.
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores. Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia

fonte: http://jeocaz.multiply.com/journal/item/78/78

Propaganda e Manipulação - Regime Militar

Ao assistir à televisão, ler um jornal ou revista, ouvir rádio ou olhar um cartaz de rua, tem-se a atenção despertada para mensagens que convidam a experimentar um determinado produto ou a utilizar algum serviço. São anúncios que pedem para usar um sabonete, fumar cigarros de certa marca, depositar dinheiro numa caderneta de poupança e inúmeros outros. Outras vezes, embora sem se referir especificamente aos produtos ou serviços, os anúncios mencionam uma determinada empresa ou instituição, falam de sua importância para a sociedade, dos empregos que ela propicia ou de sua contribuição para o progresso do país. Procuram, dessa forma, criar uma imagem positiva da entidade para que se a considere com simpatia. Trata-se, em todos esses exemplos, de publicidade, também denominada propaganda comercial.

A propaganda eleitoral, geralmente, é realizada em vésperas de eleições. Suas mensagens, veiculadas pelos meios de comunicação ou divulgadas diretamente através de discursos e apelos pessoais, convidam a votar em determinado candidato, enaltecem suas qualidades positivas e informam sobre as obras que realizou no passado e as que irá fazer no futuro, se eleito.

A produção desses anúncios envolve diversas e diferentes etapas. A empresa que deseja aumentar as vendas, o número de usuários de seus serviços, ou o candidato que quer ser eleito, contrata uma agência de propaganda. A partir daí, profissionais especializados passam a estudar cuidadosamente os diversos aspectos que lhes permitam adquirir um perfeito conhecimento da situação. Verificam as características do produto ou serviço, formas de distribuição, preços e informam-se sobre os concorrentes. No caso de candidatos a cargos políticos, analisam suas qualidades, aspectos físicos, idéias que defendem etc. Obtido o maior número possível de informações, a agência passa a investigar os prováveis consumidores ou eleitores. Pesquisa seus hábitos, expectativas, motivações, desejos e todos aqueles elementos necessários para prever as atitudes que poderão assumir em face das propostas a serem apresentadas. Verifica, ainda, os hábitos de leitura, locais que freqüentam, canais de televisão e estações de rádio que preferem e os respectivos horários. De posse de todos esses dados, relativos ao que deve ser anunciado, às pessoas que devem receber as mensagens e aos veículos de divulgação, a agência prepara a campanha. Tem condição, assim, de criar os comerciais e anúncios de forma atrativa e convincente para, em seguida, difundi-los nos locais, veículos e horários mais adequados à consecução dos objetivos que tem em vista.

A pessoa que recebe a comunicação não encontra nenhuma dificuldade em perceber que se trata de propaganda, ou seja, de que existe o fim específico de gerar uma predisposição para a compra ou utilização da serviço, criar uma imagem favorável da empresa ou obter votos. Pode, inclusive, evitar os apelos desligando a TV, mudando a estação do rádio ou simplesmente não prestando atenção.

Há uma outra forma de propaganda que se desenvolve de maneira bem mais complexa. Nos casos até agora mencionados a meta era estimular apenas a prática de um ou alguns atos isolados. Promovia-se, como vimos, a escolha de bens ou serviços de certas empresas ou a opção de voto para o candidato de determinado partido. A propaganda ideológica ao contrário, é mais ampla e mais global. Sua função é a de formar a maior parte das idéias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social. As mensagens apresentam uma versão da realidade a partir da qual se propõe a necessidade de manter a sociedade nas condições em que se encontra ou de transformá-la em sua estrutura econômica, regime político ou sistema cultural.

Não é mais tão fácil perceber que se trata de propaganda e que há pessoas tentando convencer outras a se comportarem de determinada maneira. As idéias difundidas nem sempre deixam transparecer sua origem nem os objetivos a que se destina. Por trás delas, contudo, existem sempre certos grupos que precisam do apoio e participação de outros para a realização de seus intentos e, com esse objetivo, procuram persuadi-los agir numa certa direção. E eles conseguem, muitas vezes, controlar todos os meios e formas de comunicação, manipulando o conteúdo das mensagens, deixando passar algumas informações e censurando outras, de tal forma que só é possível ver e ouvir aquilo que lhes interessa.

Os noticiários de jornais, rádio e televisão e os documentários cinematográficos transmitem as informações como se fossem neutras, mera e simples descrição dos fatos ocorridos. Mas, em verdade, essa neutralidade é apenas aparente, pois as notícias são previamente selecionadas e interpretadas de molde a favorecer determinados pontos de vista. Os filmes de ficção, romances, poesias, as letras de músicas e expressões artísticas de maneira geral parecem resultar da livre imaginação dos mais variados artistas. Todavia, a distribuição a promoção das obras são controladas de modo a só tornar conhecidas aquelas cujo conteúdo não contrarie as idéias dominantes. As denominações de ruas e praças, as placas comemorativas e de sinalização, as estátuas e efígies de pessoas, colocadas nos mais diversos logradouros, aparentemente se destinam apenas a servir de orientação ou a decorar os ambientes. Porém, na maioria dos casos, cuja vida deva servir de exemplo, com o objetivo de que sejam imitadas em benefício da realização dos interesses promovidos pela propaganda. Professores extravasam sua função de transmitir conhecimentos científicos para divulgar concepções comprometidas com certas posições. Líderes religiosos, que se propõe a orientar seus adeptos pelos caminhos da paz espiritual e da salvação eterna, acabam empurrando-os para ações que favorecem lucros materiais e ambições terrenas.

Por toda a parte e em todos os momentos são propagadas idéias que interferem nas opiniões das pessoas sem que elas se apercebam disso. Desse modo, são levadas a agir de uma outra forma que lhes é imposta, mas que parece por elas escolhida livremente. Obrigadas a conhecer a realidade somente naqueles aspectos que tenham sido previamente permitidos e liberados, acabam tão envolvidas que não têm outra alternativa senão a de pensar e agir de acordo com o que pretendem delas. Um exemplo concreto, dentro da história brasileira, permitirá esclarecer melhor essa amplitude da propaganda ideológica.

Em abril de 1964, alguns militares, com apoio de políticos, empresários e segmentos da classe média, tomaram o poder através de um golpe de estado. O novo regime político foi redefinido no sentido de restringir a participação popular, impedindo quaisquer reivindicações, movimentos ou conflitos. Paralelamente, propunha-se a reorientação do sistema econômico para um modelo de desenvolvimento que, diferentemente das propostas nacionalistas anteriores, permitiria maior penetração de capital externo no país.

Essas diretrizes eram fixadas em função dos interesses das empresas multinacionais, dos grandes proprietários de terras, industriais, comerciantes e banqueiros. Através delas, estimulava-se a acumulação de capital sem os incômodos das tensões causadas pela luta reivindicatória dos trabalhadores.

Mas esses objetivos não poderiam ser realizados sem o apoio e a colaboração dos trabalhadores em geral e da classe média. Necessitavam-se dos operários nas fábricas, dos colonos nas fazendas e dos funcionários nas repartições. Era preciso que todos trabalhassem e se esforçassem o mais possível, sem grandes exigências, para promover a expansão econômica. É claro que tal apoio não seria conseguido se as pessoas visadas não estivessem convencidas de que atuavam em função de seus próprios interesses e benefícios. Para isso o governo promoveu uma intensa campanha de propaganda ideológica, que se resolveu durante vários anos.

Inicialmente improvisada e pouco sistemática, a propaganda logo passaria a ser orientada por órgãos especialmente criados para coordenar as campanhas. A Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência de República (AERP) encarregou-se da propaganda nos governos de Costa e Silva e Médici. Geisel teve a Assessoria de Imprensa e Relações Públicas (AIRP), depois desmembrada em duas. Figueiredo criou a Secretaria da Comunidade Social (SECOM), posteriormente substituída pela Secretaria de Imprensa e Divulgação (SID).

Organizou-se, em todo o país, um sistema de censura de tal forma rigoroso que quase nada podia ser divulgado sem prévia autorização. Qualquer informação ou notícia que não estivesse de acordo com a ideologia oficial do governo era proibida e podia acarretar a punição do responsável. Estabelecido, dessa forma, o controle absoluto das informações, a propaganda passava a desenvolver-se sem nenhum obstáculo. O primeiro passo foi justificar o golpe do estado e o regime implantado. Explicava-se que o militares haviam tomado o poder porque o Brasil era um país desorganizado pelas crises econômicas e distúrbios políticos constantes que os governantes e administradores corruptos não conseguiam solucionar. A dramática ameaça de subversão e guerra revolucionária, orientada por comunistas portadores de “ideologias exóticas e alienígenas”, era o pretexto anunciado para justificar o caráter autoritário e repressivo do governo.

Procurando legitimar o regime, a propaganda encarregou-se de enaltecer os presidentes, apresentando-os como líderes os mais indicados para serem chefes de governo. Com a construção de uma imagem positiva dos presidentes, esperava-se conseguir despertar a confiança da população para as suas decisões, explicações e esclarecimentos. Pretendia-se obter, também, a submissão às convocações de mobilização para o trabalho e apoio ao governo.

Mas não bastavam imagens; era preciso alguns fatos concretos que mostrassem governos atuantes, e a propaganda se encarregou de difundi-los. Todas as realizações, pequenas ou grandes, eram divulgadas para todo o Brasil com insistência e repetição. A todo o momento, na imprensa, rádio, televisão ou cinema, se mencionavam a industrialização do Nordeste, a Transamazônica, os milhões alfabetizados pelo Mobral e tantos outros.

Muitos feitos foram exagerados e dramatizados ao extremo, com o objetivo de sugestionar os ouvintes. Sugeria-se que naquele período se fizera mais que em toda a história anterior do país; inúmeras construções eram apresentadas como as maiores do mundo. Afirmava-se que todas a realizações visavam ao bem estar da população em geral, ocultando-se que os maiores beneficiados eram os detentores do grande capital.

Apelava-se para o orgulho patriótico da população, mas o amor à pátria passou a ser sinônimo de submissão ao governo. Quem contestasse o regime militar passava a ser considerado antibrasileiro, e o “slogan” de 1970 impunha: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Em seguida, a propaganda procurava instilar o espírito de fé no país para que a população, confiando no futuro, aguardasse chegada de dias melhores e suportasse calmamente as dificuldades. Diziam que o Brasil era uma grande extensão de terras férteis cujas inúmeras riquezas permitiriam que viesse a se transformar em grande potência. Prometia-se a produção de ouro, urânio, ferro, petróleo e alimentos em grandes quantidades, quando então não haveria mais problemas nem sofrimentos.

Otimismo e confiança passaram a ser a tônica das mensagens. “Chegou a hora de crescer sem inflação” (Castelo Branco). “Confiamos no Brasil” (Costa e Silva). “Ninguém segura o Brasil” (Médici). “Este é um país que vai pra frente” (Geisel). “O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer” (Figueiredo). Foram épocas e slogans diferentes, mas sempre o mesmo sentido.

Legitimados o golpe e o regime, construída a boa imagem dos presidentes e suas realizações, estimulados o patriotismo e a confiança, restava pedir apoio e convocar para o trabalho. “Participação”, a idéia-chave da segunda metade dos anos 60 continuaria um lema a ser repetido pelos anos afora. “Pague seus impostos” (Castelo Branco). “A ordem do Brasil é o progresso. Marche conosco” (Costa e Silva). “Você está convidado a participar das duzentas milhas” (Médici). “O Brasil é o trabalho e participação de todos” (Geisel). Todos esses slogans, cada um na sua época, foram intensa e sistematicamente repetidos em todos os meios de comunicação.

A propaganda deu resultados. Grande parte da população acreditou no que ouvia confiando em que os governos militares eram legítimos e defendiam seus interesses. Submeteu-se às decisões políticas e colaborou com o seu trabalho. Os objetivos foram alcançados em sua maior parte. O país superou a crise em que se encontrava em 1964, expandiu-se o sistema financeiro, o capital estrangeiro investiu em todos os setores, diversificou-se a agricultura e se desenvolveu a indústria. As fábricas, as fazendas e os bancos cresceram e com eles os lucros. Os grandes beneficiados foram os proprietários do grande capital. Uma pequena parte da população recebeu alguns poucos frutos desse desenvolvimento, mas os capitalistas viram sua riqueza multiplicar-se rapidamente, ficando com a maior parte. Para as classes trabalhadoras, contudo, a pior conseqüência foi a alienação produzida pela propaganda, a ignorância sobre suas próprias condições de vida e seu papel na sociedade. Mistificadas, perderam grande parte da sua capacidade de organização e luta em defesa de seus próprios interesses, e só ao final dos anos 80 é que viriam a recuperar parte de sua força.

Esses exemplos são simplificativos para mostrar a força de expansão da propaganda ideológica. Ela foi empregada em todas as épocas conhecidas da história, pelos mais diversos grupos e líderes. Uns para manter o status quo e garantir seu poder, outros para transformar a sociedade todos procuraram envolver as massas na consecução de determinados objetivos e realização de certos interesses. Inúmeras vezes a propaganda foi total, utilizada não apenas para divulgar alguns idéias e princípios, mas para incutir toda uma visão do mundo e sua história, de idéias e respeito do papel de cada indivíduo e sua família, da posição dos grupos e classes na sociedade e para impor valores e padrões de comportamento como os mais adequados e mais justos.

A propaganda nem sempre se desenvolveu da mesma maneira, mas variou conforme o momento histórico que foi realizada. Em cada época, o modo de produção econômico vigente, o estádio em que se encontravam as forças produtivas, a posição e capacidade das classes sociais em conflito é que determinaram a forma, o conteúdo e o grau de intensidade das campanhas. Mas há alguns aspectos que permanecem constantes, repetem-se na história, e podem ser considerados princípios gerais. É o que se verá a seguir.

Usada como propaganda durante o Regime Militar

Música de Protesto



Meu caro amigo (Chico Buarque)
Composição: Chico Buarque / Francis Hime (1976)

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo pessoal
Adeus


1976 © by Trevo Editora Musical Ltda

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A Argentina - embarcando nos "vôos da morte"

Considerada uma das mais sangrentas da América Latina, a ditadura militar na Argentina deixou, entre 1976 e 1983, um saldo de pelo menos 30 mil mortos - cerca de 0,12% da população média no período. Instaurada no governo de Maria Estela Martinez Perón, viúva do então falecido ex-presidente Juan Domingo Perón, o regime deixou também danos do ponto de vista econômico - como no Brasil. Em sete anos, a dívida externa saltou de 8 bilhões de dólares para 45 bilhões dólares, e o número de argentinos que viviam abaixo da linha da pobreza subiu 23%. “O país foi levado a um enorme retrocesso histórico, deixou de ser semi-industrializado para se transformar num país que vive das exportações agrárias. Há anos, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina era superior ao brasileiro e, hoje, é inferior ao do Estado de São Paulo”, resume Osvaldo Cogiolla, professor de História da Universidade de São Paulo (USP).
Não só militantes de esquerda, mas opositores do regime militar, familiares e cidadãos muitas vez sem qualquer vinculação política foram torturados e erradicados por militares que agiam com a cumplicidade do Estado, causando o “desaparecimento” de dezenas de milhares de pessoas acusadas de subversivas. A campanha de detenção ilegal, tortura e assassinatos deflagrada durante o período ficou conhecida como “Guerra Suja”. Um dos métodos mais usados era o chamado “vôo da morte”, em que prisioneiros eram colocados em um avião e jogados no mar para morrerem afogados.
O declínio do regime veio com a fragorosa derrota militar em 1982, na Guerra das Malvinas, território cujo controle foi disputado com a Inglaterra. Uma soma de fracassos internos e externos do governo militar provocaram seu constante enfraquecimento até 1983, ano em que Raul Alfonsin foi eleito presidente. Os governos militares da América Latina - entre eles, os do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Chile e do Paraguai - montaram, durante a década de 1970, uma ação conjunta para aniquilar os adversários políticos, unificando seus aparatos repressivos. A ação foi financiada com dinheiro, apoio logístico e treinamento oferecido pelo governo dos Estados Unidos.
Em 1992, os documentos da polícia secreta do Paraguai vieram à tona, confirmando as denúncias da chamada Operação Condor, um acordo que legitimava a busca, captura, trocas de prisioneiros, torturas, desaparecimentos e mortes de cidadãos e cidadãs, independentemente de suas nacionalidades, dentro do território citado, o que violava qualquer direito jurídico que lhes fosse garantido.

Fonte: 07/04/2006 11:25 Tatiana Merlino
da Redação Agência Brasil de Fato

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Música relatando o período da ditadura militar no Brasil

Livros de Oposição

Escrito nas prisões pelas quais passou o seu autor entre os anos de 1972 e 1977, Poemas do Povo da Noite, de Pedro Tierra pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva, encarna bem o espírito, a forma, o conteúdo e o percurso do que chamo de “livros de oposição” – ou seja, livros editados nos anos 1970 e início dos anos 1980 no Brasil que tratavam de temas que punham em questão a ideologia, os objetivos e/ou os procedimentos do regime de 1964 ou, ainda, cujos autores faziam oposição ao governo. Entre estes, destacavam-se as obras escritas por ex-exilados e ex-presos políticos.

Boa parte desses livros era editada por editoras de oposição – editoras com perfil marcadamente político e ideológico de oposição ao governo militar. Compunham um universo que englobava desde editoras já estabelecidas – como Civilização Brasileira, Brasiliense, Vozes e Paz e Terra – até as surgidas naquele período – como Alfa-Ômega, Global, Brasil Debates, Ciências Humanas, Kairós, Codecri, Livramento, Vega, entre outras. Algumas destas editoras mantinham vínculos estreitos com partidos ou grupos políticos, alguns deles na clandestinidade, ou foram criadas por esses grupos. Outras não estabeleciam vinculações políticas orgânicas ou explícitas mas, por sua linha editorial, acabavam representando iniciativas políticas de oposição.

Das celas para as páginas
Hamilton Pereira da Silva, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi preso em 10 de junho de 1972, quando tinha 24 anos, em Anápolis, Goiás, cidade próxima a Brasília. Era acusado de subversão e de atentar contra a segurança nacional. Submetido a longos períodos de tortura – aos quais ele costuma se referir como “interrogatórios” –, permaneceu cerca de três meses incomunicável em quartéis do Exército, em Goiânia e em Brasília.

Foi transferido de Brasília para São Paulo, onde esteve detido de março a outubro de 1973 na Oban/DOI-CODI (Operação Bandeirante/Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operação de Defesa Interna), na rua Thomaz Carvalhal esquina com rua Tutóia, um dos mais tristemente famosos centros de tortura do regime militar. Foi, então, enviado ao Presídio do Hipódromo, depois à Casa de Detenção no Carandiru, à Penitenciária do Estado de São Paulo e ao Presídio do Barro Branco. Condenado inicialmente a 12 anos de reclusão – incluindo 1 ano de “medida de segurança detentiva” –, sua pena foi fixada, após recurso, em cinco anos. Ele somente foi solto em 10 de março de 1977, após cumpri-la integralmente[1].

Desde 2003, Hamilton Pereira é presidente da Fundação Perseu Abramo, instituição vinculada ao Partido dos Trabalhadores.

Leitor e apreciador de literatura desde a adolescência em Porto Nacional (na época município de Goiás, hoje integra o estado do Tocantins), Hamilton encontrou na poesia uma maneira de se manter vivo e lúcido na cadeia, uma forma de resistência e de possível comunicação com o mundo exterior.

Como registra Emiliano José, Hamilton tinha a

capacidade de viver poesia, de mergulhar na tragédia e nas dores humanas depois de experimentá-las na própria carne. Pedro Tierra até hoje se considera um sobrevivente, e o solo fundamental de sua sobrevivência foi a poesia – é até hoje. “Era, então, a maneira de poder me olhar no espelho sem enlouquecer.” Era como se ele dissesse, de si para si: a humanidade não pode ser isso que estou vendo aqui. Os versos construíam outra humanidade, ou o faziam divisar outra face do humano, não a do terror.[2]

Seus poemas descrevem os duros momentos passados pelos presos políticos, as torturas, a morte de muitos deles e a luta pela vida dos que resistiram às sevícias. São poemas em que palavras como “sangue”, “morte”, “luta” e “companheiro” aparecem com freqüência. A homenagem a companheiros mortos é também uma tônica do livro – dos 60 poemas do volume 17 são desse tipo. O “Poema – Prólogo” é uma boa síntese de sua obra escrita na prisão:

Fui assassinado.

Morri cem vezes

e cem vezes renasci

sob os golpes do açoite.



Meus olhos em sangue

testemunharam

a dança dos algozes

em torno do meu cadáver.



[...]

Fui poeta

do povo da noite

como um grito de metal fundido.



Fui poeta

como uma arma

para sobreviver

e sobrevivi.



[...]

Porque sou o poeta

dos mortos assassinados,

dos eletrocutados, dos “suicidas”,

dos “enforcados” e “atropelados”,

dos que “tentaram fugir”,

dos enlouquecidos.



Sou o poeta

dos torturados,

dos “desaparecidos”,

dos atirados ao mar,

sou os olhos atentos

sobre o crime.



[...]

meu ofício sobre a terra

é ressuscitar os mortos

e apontar a cara dos assassinos.

[...]

Venho falar

pela boca de meus mortos.

Sou poeta-testemunha,

poeta da geração de sonho

e sangue

sobre as ruas de meu país.

No começo, era muito difícil para ele escrever na cadeia. Além de toda a violência da prisão – não só física, mas também psicológica –, não havia lápis nem papel. “Em um intervalo de interrogatório, me deixaram sozinho na sala. Vi que havia um lápis numa mesa. Guardei-o comigo e o levei para a cela. Com ele escrevi meus primeiros poemas na prisão, em papel de maço de cigarros”, conta Hamilton.

Primeiro, tentou remeter os poemas para seus familiares e amigos por meio de cartas, mas como estas eram submetidas a censura antes de serem enviadas, os poemas acabavam não chegando a seus destinatários. Bolou então um estratagema. Nas cartas, dizia que havia lido em alguns livros que existiam na prisão certos poemas de um autor chamado Pedro Tierra – provavelmente latino-americano – dos quais gostara muito, e os reproduzia nas cartas. Nascia assim o pseudônimo com que assinaria os poemas e o livro que primeiro os reuniria, publicados quando o autor ainda estava preso: Poemas do Povo da Noite.

Depois, foi necessário outro expediente para enviar os poemas para fora da prisão: escrevia-os em papel de cigarros que eram colocados dentro de canetas, junto com a carga das mesmas.

“O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh visitava os presos políticos quase semanalmente. Numa das ocasiões, levou duas canetas Bic escrita fina. Estas canetas, que são vendidas até hoje, são amarelas por fora, não permitindo ver a carga em seu interior. Ele deixou uma das canetas comigo. Na semana seguinte, entreguei a ele a caneta que havia ficado comigo, e enrolados na carga estavam dois poemas meus escritos em papel de cigarro, com letra bem pequena. Ele me deixou a caneta que estava com ele, para na semana seguinte repetirmos a operação. Assim saíram muitos dos poemas que compõem o livro”[3].

Isso passou a ocorrer a partir do segundo semestre de 1974[4]. Greenhalgh – na época advogado de vários presos políticos e atualmente deputado federal pelo PT de São Paulo – também recorda o caso:

Perguntei ao Hamilton se já havia feito alguma coisa com as poesias. Ele disse que não, pois não havia segurança para que elas saíssem da prisão. Então propus que ele fosse me dando os poemas aos poucos, eu os datilografaria e veríamos a possibilidade de montar um livro de poesias. E assim foi, com o recurso da troca de canetas durante minhas visitas aos presos.[5]

Greenhalgh lembra que quando retirava das canetas as folhas nas quais estavam escritos os poemas, sua esposa passava-as com ferro de engomar para que as elas ficassem planas, e depois datilografava as poesias.

A primeira edição
A primeira edição[6] dos poemas de Hamilton Pereira/Pedro Tierra, ainda artesanal e não comercial, foi feita provavelmente em 1975 e organizada pelo advogado Greenhalgh, responsável, como vimos, pela saída do presídio da maior parte dos poemas que formariam o livro Poemas do Povo da Noite. Foi ele quem primeiro reuniu os poemas em uma pasta e apresentou-os a um grupo de pessoas que apoiava os presos políticos e seus familiares em São Paulo. Este grupo tinha também como objetivo apoiar politicamente a atuação de D. Pedro Casaldáliga na prelazia de São Félix do Araguaia.

Este grupo se reunia sob a proteção de Madre Cristina no Instituto Sedes Sapientae, na rua Caio Prado[7]. Durante muito tempo foram reuniões clandestinas. Dali surgiu um dos núcleos que dariam origem ao movimento pela anistia.

“Falei para o grupo sobre as poesias, quando já tinha um certo número delas reunidas e datilografadas, e apresentei a idéia de que talvez pudéssemos fazer um livro”, recorda Greenhalgh. Segundo ele, as ilustrações de Pepe, que saíram em todas as edições do livro, surgiram neste momento, pois Pepe, um jovem artista espanhol que então viva no Brasil, era amigo de uma das pessoas do grupo, e por intermédio dessa pessoa tomou conhecimento dos poemas e fez as ilustrações. Foi Greenhalgh quem também pediu a D. Pedro Casaldáliga que fizesse o prefácio para o livro de Hamilton Pereira[8].

“A primeira edição foi feita à mão, saiu assinada com o pseudônimo Pedro Tierra e com os desenhos do Pepe feitos em papel sulfite. Fizemos xerox desse livro para distribuir. Eu tenho o original em meus arquivos”, afirma Greenhalgh.

Esta edição teve circulação reduzida e semiclandestina, xerocada ou mimeografada e distribuída de mão em mão[9]. Não obtive informação de quantos exemplares podem ter sido feitos. O autor, Hamilton Pereira, ainda estava preso quando esta edição foi publicada.

Após esta primeira edição, entra em cena um personagem que terá grande importância para a difusão dos poemas de Pedro Tierra: o padre italiano Renzo Rossi.

De acordo com Greenhalgh, o padre Renzo, que atuava na Bahia e lá dava assistência pastoral a presos políticos, iniciou contato com os presos políticos de São Paulo, pois também queria ajudá-los. Passou então a visitar os presos políticos no Presídio do Barro Branco, entre os quais Hamilton. “Quando o padre Renzo, uma pessoa de coração enorme, viu os poemas dele ficou muito impressionado e pediu para traduzi-los para o italiano”, diz Greenhalgh[10].

A primeira visita do padre Renzo em São Paulo foi a Paulo Vannuchi, no Presídio do Barro Branco, no final de 1975[11]. Mas foi a partir de julho de 1976 que essa atividade se intensificou. No dia 17 daquele mês, Renzo inicia uma série de visitas aos presos do Barro Branco, que se desenvolverão e resultarão em profundo envolvimento do padre, em particular com alguns presos. Esta visita do dia 17 de julho de 1976 está descrita em detalhes no livro As asas invisíveis do padre Renzo, de Emiliano José. É nessa ocasião que ele conhece Hamilton Pereira e seus poemas, e “fica emocionado ao ler os versos manuscritos de Pedro Tierra”[12].

Emiliano José diz que “Renzo se impressionará tanto com as poesias de Pedro Tierra [...] que passou a reproduzi-las em mimeógrafo, encadernar e distribuir Brasil afora”[13].

Ou seja, o padre Renzo parece ter começado a fazer por conta própria a reprodução e distribuição da edição já existente de Poemas do Povo da Noite, organizada por Greenhalgh, que antes era feita apenas pelo grupo de apoio aos presos políticos, dando ao volume um alcance maior no que diz respeito à circulação, inclusive levando-o para o exterior.

Não resta dúvida do papel de Renzo na divulgação dos poemas. Como lembra Hamilton Pereira, “Ele era um entusiasta, distribuía meus poemas como quem distribuía panfletos”.

“Ele virou um semeador da poesia na Idade do Terror”, diz o poeta, ao relembrar a atitude de Renzo de entregar suas poesias a militantes, amigos, familiares. Pedro Tierra se tornou conhecido nos tempos das catacumbas e pelos métodos subterrâneos próprios desses períodos, e pelas mãos de um sacerdote.[14]

Fonte: Revista Espaço Acadêmico /2005

A DITADURA E AS COXINHAS - Crônica

Fui desses adolescentes que atormentam as namoradas esguias, por uma transadinha. Não conseguindo, apelam forjando expressões humildes e desesperadas que abrigam argumentos como: "Então me deixe botar nas coxinhas; por favor... Só nas coxinhas!". Aí as meninas levantavam as saias - quase sempre eram saias -, para serem lambuzadas pelo prazer que não sentiam. Algumas vezes minha consciência gritou, sem que minha voz confessasse o peso. Com o tempo, acabava gostando da situação. Eu tinha o meu prazer, elas sabiam que não teriam o seu e se resignavam. Era cômodo para mim, porque não envolvia perigo e responsabilidade. Não haveria uma gravidez me obrigando a ser homem, nem o meu machismo teria de ser provado num desempenho que levasse à satisfação total da parceira. Sequer havia parceira. Havia coxinhas.
A relação entre povo e poder público, depois da ditadura militar, é um tanto parecida. Quando perceberam que a repressão aberta já os expunha ao perigo e exigia grandes responsabilidades, os políticos brasileiros acabaram recuando. O que pareceu uma vitória de artistas, universitários e intelectuais engajados na luta pela democracia foi apenas uma retirada estratégica dos ditadores. A ditadura estava gerando filhos rebeldes . Dando fama, fortuna e prestígio a opositores ousados e criativos. Tinha crises de impotência e já não se auto-explicava perante o mundo, por causa da truculência com que tangia o país. Tangia mesmo. Não regia.
Ditadores não querem dar prazer. Apenas tê-lo. Como descobriram que a democracia é mais eficiente neste quesito, resolveram travesti-la. Governos democráticos não precisam parecer super-homens, deixam o povo e seus líderes latirem à vontade e tocam suas carruagens de mentiras, ganância e corrupção. Eles matam sorrindo, poetizam a fome, a vilolência urbana, a falta de cultura e educação. Regimes democráticos não levantam Chicos, Caetanos, Vandrés, Brizolas e Gabeiras, e ainda conseguem amansar os "companheiros" menos convictos... os Luízes Inácios, que só assim chegam ao trono, dispostos a manter a ditadura risonha e sem farda.
Eis aí a democracia: É a ditadura que bota nas coxinhas, lambuzando a sociedade passiva que não goza, não sente nada de bom e não tem como lutar contra o que não existe. Os ditadores têm ponto fraco: Você os enfurece, fá-los perder a compostura e deflagrar sua truculência, mostrando quem são. Já os ditos democráticos, só matando: Não têm vergonha na cara; nada os atinge. A justiça internacional não os vê. Só as nossas coxinhas os conhecem... não. Não apenas as coxinhas. Também os conhecem nossos estômagos vazios, nossa indignação inofensiva, nosso temor do futuro e tudo o mais que não toca, não sensibiliza nem acorda suas consciências... que consciências?

Demétrio Sena

Muda essa postura!!!!!!!!!!!!!!!!!

De geração em geração ..todos no bairro já conhecem essa lição!!

Olha o que a censura fez!

terça-feira, 22 de setembro de 2009



Entendendo à perseguição aos judeus



Você, alguma vez, já parou para entender o que realmente aconteceu durante a época de ouro do Nazismo? Porque milhares de judeus foram mortos de maneira tão cruel e como o povo alemão pode aceitar tamanha atrocidade? Não? Pois bem, um bom cristão deve entender melhor o mundo que está ao seu redor e sua história. É por isso que eu trouxe, de maneira resumida, um estudo de olhar cristão sobre os movimentos ocultistas pulsantes na Europa até chegar ao jovem Hitler.
Nossa viagem começa com a Teosofia. A teosofia nada mais é que uma seita ocultista, camuflada de discussão filosófica, que visa obter a “sabedoria dos deuses”. Sua forma atual foi criada pela russa Helena Blavatsky, que divulgou amplamente os conceitos da teosofia pelo ocidente ao fundar a Sociedade Teosófica em 1875 e através de diversos livros, entre eles o famoso “A Doutrina Secreta“, de 1888.
A teosofia alega que o mundo foi e ainda será habitado por 8 espécies definidas de seres, em tempos determinados, chamadas de Ronda. Cada espécie, ou Ronda, se subdivide em 7 outras sub-espécies. Ainda segundo a teosofia, cada Ronda deve terminar para começar outra. Já houve a Ronda dos deuses sem corpo, dos deuses com corpo, já passamos pela quinta Ronda que é a da população evoluída de Atlantida, mas que teve seu tempo chegado ao fim através de um terrível terremoto. No momento, estaríamos na sexta Ronda, composta pelos seres humanos que derivam da raça atlante.
Blavatsky alega ainda que a raça humana é dividida em sete sub-espécies, todas derivadas da raça ariana que é a mais poderosa e inteligente sobre todas as sub-espécies. Ela alega ainda que a raça ariana são os atlantes, mas sem os poderes de semi-deuses. E nessa linhagem de sub-espécies aparece como inferior a raça semítica, ou seja, os egípcios e os judeus. Segundo a Teosofia Ariana, eles precisariam ser destruídos para que a raça ariana pudesse evoluir para a sétima Ronda, pois eram muito limitados para evoluir junto aos outros e, por isso, travavam a sétima evolução.
Essa Teosofia Ariana foi amplamente divulgada na Rússia e países germânicos. Os semitas passaram a ser considerados um estorvo, uma paralisia; a teosofia ganhou inúmeros adeptos. Entre esses adeptos estava Dietrich Eckart, que recebeu uma profecia da comunidade teosófica: ele seria o mentor do homem que levaria a raça semítica à extinção e a raça ariana à sétima evolução. E isso quase aconteceu.
Eckart foi um dos fundadores do “Partido Alemão de Trabalhadores“, que foi nomeado mais tarde como “Partido Socialista Alemão de Trabalhadores” (Nationalsozialistische), e que obviamente foi chamado de Partido Nazista e gerou o Nazismo. Em 1919, Eckart conheceu um jovem promissor chamado Adolf Hitler durante um comício do partido. Eckart percebeu que aquele seria o jovem da profecia e passou a ensiná-lo as teorias teosóficas, arianas e anti-semíticas. Isso não quer dizer que Hitler aprendeu a odiar judeus com Eckart; Hitler já aprendera o anti-semitismo em sua juventude Viena. O seu ódio apenas foi aumentado e moldado conforme os desejos do partido Nazi. Antes de falecer, Eckart pronunciou que Hitler seria quem regeria o partido conforme seus desejos e levaria a raça ariana à evolução.
Conhecendo melhor esses fatos, podemos entender o porquê da perseguição aos judeus naquela época. Não foi algo simplesmente implantado por Hitler, mas era um pensamento ocultista que já vinha sendo disseminado desde a época de Blavatsky. Quando Hitler tomou o poder na Alemanha e declarou guerra contra os aliados que haviam vencido a primeira guerra mundial, ele se sentiu confiante para a execução da limpeza étnica e quase limpou a Europa dos judeus, ciganos e egípcios. Toda essa matança e o Holocausto foi influenciado, dentre outros fatores, pela teosofia, que acreditava ser a limpeza étnica um caminho para a evolução da raça ariana. O extermínio de semitas foi chamado de “Solução Final” e gerou a perseguição e a prisão de judeus nos famosos campos de extermínio.
Ps. Alguém notou a suástica, símbolo do nazismo, presente no simbolo da teosofia? Pois é, uma das inúmeras características da teosofia levada para o nazismo.
Barbárie!!!!!!!!!!!!

Pra nunca se conformar!!!

HUMANIDADE (HUMANITY) - Scorpions
Humanidade Auf wiedersehen (despedida em alemão)
É tempo de dizer adeus
A festa acabou
O riso morreu
Um anjo chora
É "au revoir" para sua insanidade
Você vendeu sua alma para alimentar sua vaidade
Suas fantasias e mentiras.
Você é uma gota na chuva, apenas um número, não um nome
E você não vê isso, você não crê nisso
Ao fim do dia você é uma agulha no palheiro
Você assinou e selou isso
E agora você tem que concordar com isso
Humanidade, humanidade, adeus, adeus.
Esteja no seu caminho
Adios amigo, há um preço a pagar
Por todos os jogos egoístas que você jogou
O mundo que você criou se foi.
Você é uma gota na chuva...... humanidade, humanidade, adeus, adeus.
Corra e esconda, há fogo no céu
Fique no lado de dentro
A água vai levantar e te colocar debaixo
Nos seus olhos eu estou olhando fixo para o fim do tempo
Nada pode nos mudarNinguém pode nos salvar de nós mesmos.
Você é uma gota na chuva....... humanidade, humanidade, adeus, adeus.
Autoritarismo e arbitrariedade no Governo Requião:
suspende, prende e demite professor que queria gestão democrática


O governador Roberto Requião (PMDB-PR) afirma ter a educação como prioridade em seus discursos. E, não raro, enaltece o caráter democrático na escola. Porém, com relação ao professor Carlos Roberto Dias, do pequeno Distrito de Tereza Cristina, a história foi bem outra.
O Distrito de Tereza Cristina, com 153 anos a 350 km da capital, possui aproximadamente 500 habitantes, a maioria descendentes de ucraínos e poloneses. A cidade grande mais próxima, Cândido de Abreu, fica a 72 km.
Tereza Cristina foi fundada pelo médico francês Jean Maurice Faivre, ele queria implantar no Brasil uma comunidade socialista. Lá nasce a primeira cooperativa brasileira. Ela é o primeiro Distrito do Paraná e o terceiro do Brasil. Segundo o professor Carlos Dias, “da mesma forma que a natureza foi bondosa com o Distrito, a miséria também é abundante”. A maioria das pessoas mora “pior que tatu, não tem água potável e possui um dos piores IDH’s do Paraná”, denuncia o professor.

O problema da água

Havia muitas faltas de estudantes às aulas por causa da hepatite causada pela água insalubre. “Um aluno me perguntou se água dava pelo”, o professor relata assustado. Depois, o professor ficou sabendo que havia morrido um cachorro na mina onde o estudante pegava água pra consumir. Segundo uma análise da Sanepar, a água de lá é inadequada para o consumo humano. A análise da água só foi feita depois da Promotoria Pública ter sido acionada pelo professor.
Após muitas denúncias, sem providências concretas por parte do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã e da Ouvidoria da SEED (Secretaria Estadual da Educação), a Comunidade Escolar e a população começaram a se mobilizar, “exigindo água de qualidade e atitudes da direção da escola”, afirma. “Logo alguém da Sanepar começou a participar das reuniões da comunidade”, relembra contente o professor.

Transparência e Gestão Democrática

Segundo Carlos Dias, a escola na qual trabalhava até o final de 2008, “só fazia eleições de APMF e Conselho Escolar, de forma fraudulenta”. Falar em eleições para direção, água potável, Grêmio Estudantil e do uso do Laboratório de Informática – o PR Digital - era proibido pela direção, garante o professor. “A ex-diretora, mandou queimar as redações dos alunos que falavam da qualidade da água”, afirma.
Após muita pressão da comunidade, houve eleição para a APMF e a oposição ganhou com mais de 80% dos votos e, “estranhamente”, a ata que foi entregue no Núcleo de Ivaiporã, “sumiu”. Segundo o professor Carlos Dias, a comunidade revoltada resolveu paralisar as aulas. A presidente da APMF e a secretária foram convidadas a buscar a ata de volta direto no NRE, mas chegando lá ameaçadas de diversas formas, inclusive com “a Polícia Federal que iria lá e eu – o professor - sairia algemado”. E mais, que “eu era louco e não prestava para nada pessoal e profissionalmente”, relembra o professor decepcionado.

Ameaças da PM

O professor relata que dias antes, policiais militares estiveram lá e o ameaçaram dizendo que providências seriam tomadas pelo Batalhão de Choque, de Ponta Grossa, pois foram informados que “haveria depredação na escola”. Ele lembra que as mães, estas sim, chegaram de volta a Tereza Cristina, em estado de ‘choque’. A presidente da APMF chorava compulsivamente e teve que ser medicada.

Perseguição política

Entre outras denúncias, contra o professor, é de que ele estava “se relacionando politicamente com a ‘oposição’ do governo e de estar denunciando a ex-diretora”. Como se fosse crime ser crítico e exigir seus direitos de cidadão.
Até uma comissão do NRE foi designada para questionar o professor sobre “qual era o meu partido, qual minha religião e se eu conversava com a oposição do governo Requião, me senti em plena Santa Inquisição. E quando fui ao NRE pela primeira vez a assessora jurídica, me disse para não prosseguir com as denúncias, pois os envolvidos “eram apadrinhados do Pessut”i. Lá no Núcleo sofri todo tipo de pressão, parecia o DOPS, órgão dos governos militares que perseguia prendia e matava quem ousasse questionar o governo”, desabafa.
E tudo começou, garante o professor, quando o ex-vice prefeito, Pedro Derbli (PMDB), “me ameaçou de morte após me exigir que parasse com as reuniões com a comunidade”. Segundo o professor Carlos Dias, Pedro Derbli afirmou que “eleição aqui eu ganho no dia e com dinheiro e não com água ou democracia. ‘Vou ligar já pro Pessuti’ (o vice-governador do Estado)”, denunciou. “O Pedro Derbli é ligado à ex-diretora que são ligados ao vice-governador Orlando Pessuti, que tem a sua irmã como chefe do Núcleo de Ivaiporã, Onélia Pessuti”, garante Carlos Dias.

Armação e linchamento político da SEED

A Comissão de Processo Administrativo aberto não foi para apurar as denúncias, mas para condenar o professor que, antes foi suspenso por 30 dias de suas atividades profissionais. “Esteve no colégio um grupo de professores enviados pela Sra. Onélia (chefe do Núcleo e irmã do vice-governador Orlando Pessuti) e fizeram uma série de críticas ao professor e disseram aos alunos “que eu não seria mais professor deles”, muito antes das apurações.

Prisão arbitrária e intimidação

Após uma “armação” contra, ele foi preso por 37 dias. As supostas “vítimas” disseram em juízo que foi tudo “uma armação contra o professor” e um abaixo-assinado foi feito com mais de 450 assinaturas “em uma comunidade de aproximadamente 500 pessoas, que foi enviada a Juíza em sua solidariedade”, salienta. A seguir um trecho do requerimento da Juíza de Direito Dra. Marcela Simonard Loureiro, da Comarca de Cândido de Abreu, que pede a liberdade do professor “...considerando o teor do depoimento das vítimas bem como os documentos acostados aos autos, principalmente o abaixo-assinado da comunidade de Tereza Cristina...” , neste mesmo requerimento ela solicita “exame psicológico nas vítimas”.

Sem direito de defesa

Sem ter acesso ao processo que o acusava e condenava, e muitos ofícios protocolados a mais de um ano sem respostas, descontos em seu salário o professor Carlos Roberto Dias, foi demitido sem direito de defesa, e nenhuma testemunha sua foi ouvida. Ele termina dizendo que “A imagem que queriam criar de mim é repudiada pela APMF, a Comunidade Escolar e a população. O fato é que criaram uma mentira, forjaram atas, fizeram denúncias “anônimas”, que levei a Justiça para que me investigasse. Falei com a Secretaria de Educação, com o governador Requião, com assessores políticos do Palácio das Araucárias e da SEED, e até agora nada”, desabafa decepcionado o professor. “Falei com o próprio Orlando Pessuti e ele me disse que era bom sair da linha de tiro e que eu procurei briga com a diretora!”, exclamou surpreso.
“Exigir transparência e gestão democrática, no governo Requião e Pessuti é crime. Acusam-me, quero que provem”, desafia o professor.

Acampamento e revolta

Diante de tudo isso, o professor afirma que estará acampado em frente à SEED/PR (Secretaria de Educação) como forma de denúncia e protesto por ter sido demitido injustamente, segundo ele. “Fui demitido por um governo que é decantado em ‘versos e prosa’, por uma ‘clack’ de ‘profissionais bem pagos’. Democracia não é retórica é prática. O governo tem a democracia na ‘ponta da língua’, desde que esta ‘democracia’ não seja questionada”, ironiza.
O professor também estranha a posição da APP-Sindicato “sei que ela é aliada do governo Requião por questões de arranjos políticos, Porém demorou, 120 dias para tomar uma posição, isso depois de eu ir a Curitiba várias vezes”. Segundo os dirigentes, continua o professor, “o primeiro e principal papel da APP é a disposição de fazer a luta para a conquista e manutenção de direitos e a defesa intransigente da carreira e das condições da categoria”, por muito menos, em outros tempos, dirigentes invadiam a SEED. Ele promete ficar em frente à SEED, o tempo que for necessário até que “seja readmitido ou preso pelo resto de sua vida”, finaliza.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O QUE É PODER

Muito se fala no poder nas universidades, nos meios de comunicação de massas, nos meios políticos. Alguns querem conquistá-lo, outros querem destruí-lo. Entretanto, poucos definem com clareza o que se entende por poder. Foucault afirma que ele é uma "relação de forças" mas nunca diz quais são estas forças que se relacionam e em que elas consistem. O "marxista"-estruturalista Nicos Poulantzas coloca que o poder é resultado da exploração de classe. E vemos assim um sem número de definições imprecisas e que não conseguem revelar o verdadeiro caráter deste fenômeno social. O poder só pode ser compreendido como uma relação social. ocorre, porém, que tudo que existe na sociedade é uma relação social. O que importa saber é que tipo de relação social específica constitui o poder. O poder é uma relação social de dominação, o que implica na existência de dominantes e dominados. Os dominantes, nesta relação, exercem a dominação sobre os dominados. Já sabemos o que é o poder, mas resta ainda saber qual é sua razão de ser, ou seja, por qual motivo existe o poder, a dominação? Alguns ideólogos dizem que ele surgiu devido à "vontade de poder" que seria inata ao ser humano. Ao enviar para a natureza humana a razão de ser do poder, se cria uma ideologia que busca tornar natural e universal algo que é histórico e transitório. Esta ideologia é bastante convincente tendo em vista que nascemos e vivemos em uma sociedade que tem como base de sustentação o poder. É uma sociedade marcada por ideologias que santificam o poder (a "santificação do poder" surge com o cristianismo e se torna mais forte com a sua institucionalização na Idade Média, tal como se vê na ideologia do poder divino e na hierarquia e idolatria existente nas igrejas). Ao lado da santificação do poder e indo além dela, surgem novas formas de ideologias que justificam o poder e tornando-o algo constitutivo da história da humanidade tal como expresso na filosofia e na ciência moderna. Esta última chega mesmo a substituir a religião como forma suprema de justificar o poder, realizando a grande tradução fictícia da história da humanidade em uma eterna e imutável luta pelo poder, de acordo com os interesses da classe dominante, tal como se vê, para ficar em apenas um exemplo, na ideologia darwinista da luta pela existência, amplamente criticada por Kropotkim e outros pensadores que rompem com esta versão naturalista da ideologia burguesa. Se consultarmos a historiografia e a etnografia, veremos que existem sociedades em que os indivíduos não possuem nenhuma "vontade de poder" e, por conseguinte, tal vontade não é natural nem universal. Assim como o poder, a "vontade de poder" (que difere da vontade de potência, no sentido de superar a alienação e sentimento de impotência gerado a partir dela) é um produto histórico e transitório. Mas compreender a razão de ser do poder é difícil porque esteamos acostumados com a divisão capitalista do trabalho intelectual e assim não nos é fácil perceber que o poder não é algo que pertence à esfera do político, que seria, segundo a ideologia burguesa, separada da esfera "econômica", "cultural", etc. O poder surge com a instituição da dominação de um grupo de seres humanos sobre outros seres humanos e isto surge historicamente com o advento da escravidão (no caso da Europa Ocidental). A escravidão surgiu quando se descobriu que os prisioneiros feitos nas guerras inter-tribais podiam ser, como os animais, "domesticados", transformados em "cativos" e colocados para trabalhar para daí se extrair mais-trabalho. Em poucas palavras, dominação e exploração nascem juntas e só podem continuar existindo juntas. Isto quer dizer que a razão de ser da dominação é a exploração, embora a divisão capitalista do trabalho intelectual ofusque, com sua distinção entre economia e política, a ligação indissolúvel entre elas. A instituição da dominação e exploração de uma classe social sobre outra não se faz sem a luta e a resistência das classes e grupos explorados e dominados. Por isso é necessário a formação de uma instituição e de um grupo social cuja função seja reprimir a resistência dos explorados: o estado. O surgimento do estado significa o surgimento de uma nova classe social: a burocracia. Esta se caracteriza por ser uma classe auxiliar da classe dominante, pois ela existe para manter e regular a dominação de classe existente. O estado é, pois, uma relação de dominação de classe cujo objetivo é manter a exploração de classe, as relações de produção que fundamentam esta exploração. Porém, a dominação de classe cria um conjunto de necessidades que produz a generalização da dominação em todas as esferas da vida social, passando a atingir as relações familiares, as escolas, etc., criando uma diversidade de formas de opressão: sexual, racial, etária, et c. a manutenção da dominação de classe exige um intenso controle social sobre toda a sociedade, o que cria focos de resistência em todas as esferas da vida social, gerando diversas formas de conflitos sociais. A abolição da dominação só é possível através da instauração da autogestão social. a instauração da autogestão social, por sua vez, só é possível através da autogestão das lutas sociais pelas classes e grupos explorados e oprimidos. É impossível superar a dominação através da reprodução da dominação, tal como propõe o chamado "marxismo"-leninismo com sua proposta de partido de vanguarda e estado de transição, que são, na verdade, embriões do domínio da burocracia que quer se tornar uma nova classe dominante. Através da autogestão das lutas sociais já se esboça novas relações sociais, fundamentadas na solidariedade e na igualdade, que se concretizam com a autogestão social, que significa a abolição das classes e, consequentemente, da dominação de classe, ou seja, do poder.