Autoritarismo e arbitrariedade no Governo Requião:
suspende, prende e demite professor que queria gestão democrática
O governador Roberto Requião (PMDB-PR) afirma ter a educação como prioridade em seus discursos. E, não raro, enaltece o caráter democrático na escola. Porém, com relação ao professor Carlos Roberto Dias, do pequeno Distrito de Tereza Cristina, a história foi bem outra.
O Distrito de Tereza Cristina, com 153 anos a 350 km da capital, possui aproximadamente 500 habitantes, a maioria descendentes de ucraínos e poloneses. A cidade grande mais próxima, Cândido de Abreu, fica a 72 km.
Tereza Cristina foi fundada pelo médico francês Jean Maurice Faivre, ele queria implantar no Brasil uma comunidade socialista. Lá nasce a primeira cooperativa brasileira. Ela é o primeiro Distrito do Paraná e o terceiro do Brasil. Segundo o professor Carlos Dias, “da mesma forma que a natureza foi bondosa com o Distrito, a miséria também é abundante”. A maioria das pessoas mora “pior que tatu, não tem água potável e possui um dos piores IDH’s do Paraná”, denuncia o professor.
O problema da água
Havia muitas faltas de estudantes às aulas por causa da hepatite causada pela água insalubre. “Um aluno me perguntou se água dava pelo”, o professor relata assustado. Depois, o professor ficou sabendo que havia morrido um cachorro na mina onde o estudante pegava água pra consumir. Segundo uma análise da Sanepar, a água de lá é inadequada para o consumo humano. A análise da água só foi feita depois da Promotoria Pública ter sido acionada pelo professor.
Após muitas denúncias, sem providências concretas por parte do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã e da Ouvidoria da SEED (Secretaria Estadual da Educação), a Comunidade Escolar e a população começaram a se mobilizar, “exigindo água de qualidade e atitudes da direção da escola”, afirma. “Logo alguém da Sanepar começou a participar das reuniões da comunidade”, relembra contente o professor.
Transparência e Gestão Democrática
Segundo Carlos Dias, a escola na qual trabalhava até o final de 2008, “só fazia eleições de APMF e Conselho Escolar, de forma fraudulenta”. Falar em eleições para direção, água potável, Grêmio Estudantil e do uso do Laboratório de Informática – o PR Digital - era proibido pela direção, garante o professor. “A ex-diretora, mandou queimar as redações dos alunos que falavam da qualidade da água”, afirma.
Após muita pressão da comunidade, houve eleição para a APMF e a oposição ganhou com mais de 80% dos votos e, “estranhamente”, a ata que foi entregue no Núcleo de Ivaiporã, “sumiu”. Segundo o professor Carlos Dias, a comunidade revoltada resolveu paralisar as aulas. A presidente da APMF e a secretária foram convidadas a buscar a ata de volta direto no NRE, mas chegando lá ameaçadas de diversas formas, inclusive com “a Polícia Federal que iria lá e eu – o professor - sairia algemado”. E mais, que “eu era louco e não prestava para nada pessoal e profissionalmente”, relembra o professor decepcionado.
Ameaças da PM
O professor relata que dias antes, policiais militares estiveram lá e o ameaçaram dizendo que providências seriam tomadas pelo Batalhão de Choque, de Ponta Grossa, pois foram informados que “haveria depredação na escola”. Ele lembra que as mães, estas sim, chegaram de volta a Tereza Cristina, em estado de ‘choque’. A presidente da APMF chorava compulsivamente e teve que ser medicada.
Perseguição política
Entre outras denúncias, contra o professor, é de que ele estava “se relacionando politicamente com a ‘oposição’ do governo e de estar denunciando a ex-diretora”. Como se fosse crime ser crítico e exigir seus direitos de cidadão.
Até uma comissão do NRE foi designada para questionar o professor sobre “qual era o meu partido, qual minha religião e se eu conversava com a oposição do governo Requião, me senti em plena Santa Inquisição. E quando fui ao NRE pela primeira vez a assessora jurídica, me disse para não prosseguir com as denúncias, pois os envolvidos “eram apadrinhados do Pessut”i. Lá no Núcleo sofri todo tipo de pressão, parecia o DOPS, órgão dos governos militares que perseguia prendia e matava quem ousasse questionar o governo”, desabafa.
E tudo começou, garante o professor, quando o ex-vice prefeito, Pedro Derbli (PMDB), “me ameaçou de morte após me exigir que parasse com as reuniões com a comunidade”. Segundo o professor Carlos Dias, Pedro Derbli afirmou que “eleição aqui eu ganho no dia e com dinheiro e não com água ou democracia. ‘Vou ligar já pro Pessuti’ (o vice-governador do Estado)”, denunciou. “O Pedro Derbli é ligado à ex-diretora que são ligados ao vice-governador Orlando Pessuti, que tem a sua irmã como chefe do Núcleo de Ivaiporã, Onélia Pessuti”, garante Carlos Dias.
Armação e linchamento político da SEED
A Comissão de Processo Administrativo aberto não foi para apurar as denúncias, mas para condenar o professor que, antes foi suspenso por 30 dias de suas atividades profissionais. “Esteve no colégio um grupo de professores enviados pela Sra. Onélia (chefe do Núcleo e irmã do vice-governador Orlando Pessuti) e fizeram uma série de críticas ao professor e disseram aos alunos “que eu não seria mais professor deles”, muito antes das apurações.
Prisão arbitrária e intimidação
Após uma “armação” contra, ele foi preso por 37 dias. As supostas “vítimas” disseram em juízo que foi tudo “uma armação contra o professor” e um abaixo-assinado foi feito com mais de 450 assinaturas “em uma comunidade de aproximadamente 500 pessoas, que foi enviada a Juíza em sua solidariedade”, salienta. A seguir um trecho do requerimento da Juíza de Direito Dra. Marcela Simonard Loureiro, da Comarca de Cândido de Abreu, que pede a liberdade do professor “...considerando o teor do depoimento das vítimas bem como os documentos acostados aos autos, principalmente o abaixo-assinado da comunidade de Tereza Cristina...” , neste mesmo requerimento ela solicita “exame psicológico nas vítimas”.
Sem direito de defesa
Sem ter acesso ao processo que o acusava e condenava, e muitos ofícios protocolados a mais de um ano sem respostas, descontos em seu salário o professor Carlos Roberto Dias, foi demitido sem direito de defesa, e nenhuma testemunha sua foi ouvida. Ele termina dizendo que “A imagem que queriam criar de mim é repudiada pela APMF, a Comunidade Escolar e a população. O fato é que criaram uma mentira, forjaram atas, fizeram denúncias “anônimas”, que levei a Justiça para que me investigasse. Falei com a Secretaria de Educação, com o governador Requião, com assessores políticos do Palácio das Araucárias e da SEED, e até agora nada”, desabafa decepcionado o professor. “Falei com o próprio Orlando Pessuti e ele me disse que era bom sair da linha de tiro e que eu procurei briga com a diretora!”, exclamou surpreso.
“Exigir transparência e gestão democrática, no governo Requião e Pessuti é crime. Acusam-me, quero que provem”, desafia o professor.
Acampamento e revolta
Diante de tudo isso, o professor afirma que estará acampado em frente à SEED/PR (Secretaria de Educação) como forma de denúncia e protesto por ter sido demitido injustamente, segundo ele. “Fui demitido por um governo que é decantado em ‘versos e prosa’, por uma ‘clack’ de ‘profissionais bem pagos’. Democracia não é retórica é prática. O governo tem a democracia na ‘ponta da língua’, desde que esta ‘democracia’ não seja questionada”, ironiza.
O professor também estranha a posição da APP-Sindicato “sei que ela é aliada do governo Requião por questões de arranjos políticos, Porém demorou, 120 dias para tomar uma posição, isso depois de eu ir a Curitiba várias vezes”. Segundo os dirigentes, continua o professor, “o primeiro e principal papel da APP é a disposição de fazer a luta para a conquista e manutenção de direitos e a defesa intransigente da carreira e das condições da categoria”, por muito menos, em outros tempos, dirigentes invadiam a SEED. Ele promete ficar em frente à SEED, o tempo que for necessário até que “seja readmitido ou preso pelo resto de sua vida”, finaliza.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
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